During the project the participants will be requested to join into creative processes, by appealing to their memory, motivated by my shoes, in order to produce a video-dance performance.
Este
trabalho é um estudo interdisciplinar2
sobre o movimento expresso nos escritos de um
grupo de coreógrafos que trabalharam na Arte Total, entre 2012
e 2014 e as suas respectivas obras (ver escritos&obras). Mas é,
também, um estudo do movimento que surge quando a Dança e a Escrita se encontram com os meus alunos
e bailarinos co-criadores, numa série de variações,
de formas de sentir ou de formas de comunicar. É um
acontecimento textual, onde um trabalho com duas áreas
aparentemente não relacionadas – Dança e Escrita –
se agencia como uma “linha quebrada
que corre entre (os) dois”(Deleuze, 1990, p. 27)
dando origem a conecções arbitrárias e à
produção de textos (os meus).
Assim,
este estudo assume-se como uma engrenagem
textual composta por quatro partes, um prólogo e um epílogo.
No prólogo mostro a forma metodológica do projecto,
focado na evolução
a-paralela das
ideias
“segundouma
linha ou linhas que não estão nem em uma nem na outra,
e que carregam um 'bloco'."(p.27)
de
duas áreas de expressão distintas. É nesta
parte que apresento como fui relacionando o material recolhido e o
material armazenado na minha memória com os respectivos
contextos, com as minhas leituras e com a minha frustração
em reconhecer em alguns autores a solução simples da
minha pesquisa. É apresentada, também, a persistênciado movimento no
pensamento escrito de quem dança e é definida a figura
de movimento imóvel3
que encontrei no acto da escrita. Esta figura é o leitmotiv
da minha escrita. Desta forma, a figura imóvel4
surge como recurso estilístico da minha escrita mas, também,
como a voz que desejo ver implicada no meu processo de pesquisa em
educação artística – porque
“(...) ter uma idéia não é ideologia, é
a prática” (Deleuze, 1990, p.53).
Posteriormente
surgem quatro partes que se constituem num todo heterogéneo. A
análise do movimento é guiada por quatro apores de
textos e coreografias particulares, entrevistas e dados recolhidos em
observação não participante. Através
deste apor diferentes perspectivas de movimento são
discutidas:
Através
desta reflexão são definidos novos contextos: o
movimento e a sua relevância nos textos dos coreografos, bailarinos e
alunos co-criadores.
Na
última e conclusiva parte, tudo será transportado para
um objecto/coisa/ máquina/experiência/trabalho coreográfico
onde tentarei finalizar a minha ideia de escrita em dança.
1Souriou,Étienne
(1983
[1969])
A
Correspondência das Artes: Elementos de Estética
Comparada,
São Paulo: Cultrix / EDUSP, trans. Maria C. Queiroz e Maria
H. R. da Cunha. p.2.
2O
nome interdisciplinarsurge
para explicar que o projecto não trata da tradução,
da paráfrase, do relato ou da explicação de um
processo de trabalho com o corpo, mas sim de uma tentativa de pensar
a escrita e os corpos que dançam, em simultâneo.
Assim, esta nota explicativa serve, também, de homenagem a
Jorge Larrosa pelo seu brilhante texto “O Ensaio e a Escrita
Académica”, publicado na revista Educação e
Realidade, Jul/dez 2003, 28 (2) : 101-115. “A
questão é que o mundo acadêmico está
altamente compartimentalizado e tenho a sensação de
que toda essa moda da transdisciplinaridade, da
interdisciplinaridade e coisas desse estilo, não faz outra
coisa senão abrir novos compartimentos, como se não
fossem suficientes os que já temos. É como se
estivéssemos fabricando especialistas na relação,
na síntese, no "inter" e no "trans"; como
se houvesse uma política acadêmica da mestiçagem;
como se além das raças puras estivéssemos
inventando os especialistas em impurezas, quer dizer, nas relações
entre as raças puras.” ( Larrosa, 2003: 106)
3
A ideia foi do meu cão. Descreveu-me movimentos sempre
deitado no mesmo tapete preto de pelo de carneiro. Durante as suas
descrições fui construindo movimentos e cenários
impossíveis. Percebi o quanto é bom pensar que corro
e que posso criar mil figuras de movimento imóvel.
4
Tenho o hábito de falar
pelo meu cão. Dar-lhe voz, dá-me prazer. É um
encontro a dois. A voz é uma ponte que nos liga. Ou melhor,
que me liga com o mundo. Encontrei nele um corpo que diz coisas. Na
verdade sempre desconfiei que alguma coisa mais habitava dentro de
mim, para além de mim. Este felpudo fala de dentro de mim,
quase sempre quando me dirijo a muita gente e estou só. Fala
de tudo. Liga assuntos e evoca memórias. Não se
importa com procedimentos académicos. E dança. Dança
muito com as palavras.
A
caixa é um espaço imenso, igual ao que rasgo com a
minha cabeça. É um espaço fechado, com ranhuras
onde se depositam riquezas. O chão da caixa revela as marcas
de quem a calca e nela vive. É um lado. Penso mais nele porque
tenho o hábito de olhar para o chão. Funciona como um
mapa que nos indica as ruas de uma cidade. Indica-nos sítios
importantes que devemos visitar. Mas, também nos indica a
esquina onde encontramos o que mudou a nossa vida. E tudo tem um
tempo de duração. Começa e acaba. A cabeça rasga o espaço com velocidade. Tentarei fazer-lhe
corresponder um corpo. Forçarei o corpo para ser veloz. E a
escrever. Depois junto todos os escritos. Selecciono, corto e volto a
juntar. Monto um novo mapa. Repito os caminhos. Repito muitas vezes.
Sento-me e descanço. Falo sobre o que me aconteceu. Anoto as
diferenças e volto a trabalhar.
A
Caixa de eslomas é um acontecimento textual, mas também
é uma engrenagem de linhas de
características aparentemente não relacionadas que dão
origem a conecções arbitrárias. É,
também, um experimento textual em que o apor se torna num
mecanismo que produz as suas próprias ligações.
O mecanismos que emergiu desta experiencia desenhou direcções
inesperadas e sensações surpreendentes que só a
imaginação do meu cão conseguiu superar. É
um estudo sobre o que não pode ser comparado e que só
pode ser correspondido. As similitudes e diferenças, as
concordâncias e dissonâncias, só fazem sentido se
as tornarmos em motivos de mudança.